domingo, 26 de julho de 2009

Capítulo Sete - First Dance.

(hmm, HEY! Devo milhões de desculpas por vocês, leitoras. Nesse mês de julho, fiquei impossibilitada de postar qualquer que fosse o capítulo. Recuperação pela primeira vez, problemas, confusões, viagens... Vocês me entendem. E, também, não conseguia achar uma maneira de colocar aqui a música do capítulo, pois hoje temos DANÇA! Então resolvi que postarei o link da música no site Imeem. Infelizmente, lá não se acha a música inteira, mas a parte principal está lá.
Aqui está Emily Wells - Symphony 6 Fair thee Well & Requiem Mix <- clica aí! Lendo, imaginem que a música que Jane descreve é essa, ok? Beijos a todas e obrigado por lerem! )



Uma última olhada para o relógio.
Minhas mãos tremiam.
Virei a maçaneta que, de leve, rangeu.
Escancarei a porta.
O estúdio continuava com o mesmo ar envelhecido, a mesma neblina alaranjada, o mesmo cheiro de menta e tabaco, a mesma fina camada de poeira. A gratidão de retorno não me abalou tanto quanto eu esperava; o nervosismo era mais poderoso.
Enquanto subia a escada, minhas pernas tremiam um pouco.
Na manhã daquele dia, eu não me importei de cumprimentar minha mãe no café, muito menos de prestar atenção nas aulas. Contei a Sam do incidente com o grupo de drogados, e ela ficou um tanto apavorada. Quanto ao meu “encontro” com Rick, não me fez perguntas, mas acho que decifrou meu olhar, pois falou logo na saída um confiante “boa sorte” e um “me conte tudo depois”.
Eu praticamente corri pelo metrô de tal ansiedade, mas quando o meu destino foi alcançado e precisei desembarcar, entrei em choque.
Eu ia dançar com ele. Eu ia dançar com ele.
Tentei, inutilmente, respirar fundo e lembrar que era um novo começo. Caminhei tensa até o estúdio e ali eu estava – subindo as escadas, tendo o máximo de certeza que iria desmaiar.
Quando pisei no último degrau, eu o vi. Sentado perto da janela, mais lindo como nunca, fumando e ouvindo música diretamente de um aparelhinho branco...
O meu iPod.
O estalo de meu All Star no piso de madeira o fez virar a cabeça para mim e sorrir como sempre, matando minha mentalidade.
Acredite se puder, mas eu não tive um ataque de coração naquela hora.
Rick se levantou e veio em minha direção com seu sorriso estupendo – as esmeraldas brilhavam como se o sol estivesse reluzindo-as. Ele passou os dedos no cabeço castanho claro desarrumado, o fazendo cair um pouco, com alguns pontos apontados para cima. Usava uma blusa de manga curta preta que mostrava o quanto seu peito era definido e uma calça preta normal. E os braços expostos – oh deus, que braços eram aqueles?
Eu estava como uma boba o apreciando. Onde esse cara esteve em todos os anos anteriores da minha vida? Como nunca tinha topado com esse cara antes?
Ele chegou finalmente à minha frente, soltando a cadeia de fumaça branca pelos lábios.
“Olá. Você é pontual.”
“Hey... err, obrigada.” disse, e por Deus minha voz não falhou.
“Pronta?”
Olhei ao meu redor.
“É, pronta.” E sorri.
Ele sorriu mais uma vez, e seus olhos diziam coisas diversas – diversão, malícia, ansiedade, opções, planos...
Virei-me e fui até o pequeno e velho sofá que tinha ali para trocar meus sapatos. O ar acumulado nos acentos foi esvaziado quando sentei no estofado de couro marrom claro. Tirei a jaqueta de couro preta e o cachecol e os dobrei perto da bolsa. Ele foi até o outro canto da sala apagar o cigarro no cinzeiro.
Quando me levantei, ele analisou-me da cabeça aos pés. Gelei. Talvez ele estivesse pensando que eu era antiquada com minha blusa babylook branca de manga curta, a calça legging (na verdade, não tão apertava para uma legging) preta e os sapatos de tango.
Quando seus olhos pararam de deslizar por mim, olhou-me com a face mais maliciosa que eu já vi, e contraditoriamente, uma expressão interrogativa.
“Você dança tango?”
“... Não. Só acho melhor dançar com esses sapatos.” Disse, simplesmente, e caminhei até o centro da sala. Meu coração golpeava meu tórax.
“Bom, muito bom.” E se aproximou mais.
“O que dançaremos?” disse, ignorando a curiosidade pelas palavras dele.
“O que quer dançar?”
“Ah...” pensei. Eu dançava um pouco de tudo, não era justo. “Escolha você. O que escolher estará bom para mim.” E me arrependi logo depois que terminei a sentença. E se ele escolhesse a pior categoria, a mais difícil? Do jeito que eu tremia, qualquer estilo de dança pareceria com uma manada de bois cegos.
Ele olhou mais profundamente em meus olhos por um segundo, riu um pouquinho e disse antes que minha cabeça pudesse girar.
“Ok.”
Afastou-se e foi até o aparelho de som, indo à faixa “seis” do CD. Colocou uma música que, ao mesmo tempo em que era agitada, era calma, sedutora. Tinha violinos perfeitos, contrastando com os sons remixados. Uma batida penetrante, que parecia dar socos em você – te obrigava a acompanhá-la de alguma forma. Com aquele som, o medo foi se esvaindo. Era perfeito, eu precisava tentar dançar a música que não tinha estilo definido.
Olhei para ele, que agora vinha em minha direção, com a expressão de duvida. Ele entendeu na hora.
“Só se deixe levar.”
E em seguida, se colou a mim, me prendendo em seus braços.
O Rick que eu pouco conhecera se tornara tenso, concentrado, e seus olhos ficaram mais fixos do que eu pensava ser possível.
Seu braço direito estava em minhas costas, no espaço à cima de minha cintura, e o esquerdo esticara meu braço direito, em posição para qualquer tipo de dança. Mas como saber como começar? Se deixe levar, se deixe levar...
Fechei os olhos e senti a batida. Sempre era assim; eu não precisava pensar, minha alma fazia o serviço completo.

Fair thee well and the requiem mix
I got a loan shark and a quick fix,
For those i left behind,
In a suit case of fire flies,
Find ya, I wanna treat you right,
Never leave you beggin and cryin.

Quando percebi, eu já estava dançando, usando pouco menos que o salão inteiro, e ele me guiava perfeitamente. Era uma mistura de valsa, tango e foxtrote, mas eu não conhecia os meus próprios movimentos – eles saíram em uma batida de coração, explodindo de mim, se libertando. Tudo que fora guardado depois da ida de Matt não agüentou preso dentro de mim enquanto o esplêndido dançarino à minha frente fazia tudo se tornar correto, sem falhas.
Na hora rítmica que a batida deu uma pausa, ele me girou, e foi perfeito – eu apenas virei e fiz os próximos passos, acompanhando os dele, como se eu soubesse da coreografia. Seu olhar verde concentrado nunca se desprendia do meu, não me deixando alternativa à não ser fazer o mesmo. Era completamente impossível se soltar de seus olhos. Na segunda pausa, ele me girou mais rápido, só que no segundo seguinte fiz um passo impensado de tango.
É, isso mesmo. Um passo de Tango.
Eu estava em completo transe. A música se revelara incrível e eu não conseguia acreditar que estava acompanhando ela com tanto fervor. Tudo combinado; os pés não errando seus caminhos nunca. Eu não precisara nem me importar em dar tudo de mim, eu nem percebia que todas as minhas energias estavam sendo devidamente gastas. Como sempre dançava, sentia-me nas nuvens, ou melhor, em um universo paralelo, onde nada nunca me feria ou me abalava. A última pausa chegou e ele, brevemente, me rodopiou três vezes seguidas, segurando-me pela cintura; o cabelo em um grande rabo-de-cavalo, estranhamente, nem roçou em seu rosto.
Quando a terceira volta foi completa, Rick puxou-me junto de si, fazendo-me ficar na meia-ponta dos pés e sua cabeça curvada para mim, com nossos lábios quase se roçando.
Ambos estávamos ofegantes. As palmas de minhas mãos estavam escorregadias, e senti uma gota de suor percorrer minhas costas até onde sua mão me segurava.
Foi ali que pude jurar que senti algo. O jeito que ele me puxara para si, o modo que sua boca estava perto demais da minha... Eu quase sentia a corrente elétrica de nossos frenéticos corações querendo se ligar.
Quando – finalmente – nossas respirações voltaram ao normal, o crepúsculo despontava a todo vapor no horizonte em uma bela paisagem vista pela janela. Deixei meus braços caírem junto ao corpo e saí da posição de finalização. Ele tirou vagarosamente o braço de minha cintura. Eu tremi. Os pelos de onde estava me prendendo apertado ficaram em pé. Olhei para ele e disse me separando definitivamente da aproximação.
“Eu preciso ir.”
Ele levantou os olhos para encarar os meus, e eu perdi a máscara de decisão.
“Eu sei.” Disse, com uma tristeza transparente e uma certeza aparente até demais.
Acenei com a cabeça e me dirigi ao sofá. Joguei-me nele, tirando os sapatos de tango e os substituindo pelo All Star surrado de sempre. Ele continuava no meio da pista de dança, olhando para baixo. Quando falou, estava se aproximando demoradamente do sofá.
“Eu trouxe seu iPod.”
“E eu trouxe seu casaco.”
“Agora você não tem mais razão para vir aqui.” Disse, com uma angústia palpável na voz e em seus olhos.
Desviei o rosto e peguei seu casaco que deixara em minha bolsa. Estendi-o no encosto do sofá enquanto ele ia pegar meu iPod. Levantei-me, vesti a jaqueta e o cachecol, peguei minha bolsa e fui ao seu encontro, que agora estendia meu companheiro musical nas mãos em minha direção. Percebi que aquilo era o marco que nos prendia. O casaco, o iPod... Aquilo nos deixara com a obrigação de retornar a nos ver. Agora estava acabado. Cada objeto com seu dono afinal. As obrigações, cumpridas.
“Obrigada pela dança. Foi...” eu não sabia como me expressar. “Incrível. Nunca dancei dessa forma antes.”
Ele fez um sinal com a cabeça e um pequenino sorriso curvara seus lábios. Tentei fazer o mesmo e me dirigi, em um passo tranqüilo, para a escada, até ele retornar a falar.
“Se você quiser...” ele começou, hesitante. “Posso te dar aulas de Tango.”
Virei-me bruscamente para sua figura parada, me olhando.
Tango?
“... Por quê?”
“Acho que te ajudara de uma forma inimaginável.” Disse Rick, com aquele sorriso malicioso que me fez perder o chão.
Eu não tinha certeza se podia – na verdade, não sabia se queria. Tango era uma dança maravilhosa, e a escolha pelos meus sapatos tinha mais características – um de meus sonhos era saber realmente dançar tango. Nunca me ocorreu de aprender com Matt – com ele tudo era muito romance. Tango é estranhamente contraditório ao Matt.
Recomeço, não é?
“... Ok.”
Segui até a escada, desci-a de dois em dois degraus e senti o vento cortante da noite que queria se apoderar do céu.
Olhei para os lados e tentei esclarecer os fatos.
Eu dancei com Rick.
Eu cumpri minha promessa.
E, acima de tudo:
Eu não fugi.
Será, então, que tudo realmente estava recomeçando? Eu tinha superado tudo aquilo?
Eu não tinha mais desculpas para dizer que era obrigada a voltar ao estúdio. Eu só queria. Com todas as células do meu corpo, com todos os ossos de minha sustentação, com cada gota do sangue que corria em minhas veias... Eu queria voltar.
Com a adrenalina em atividade constante na corrente sanguínea, corri até o metrô, com duas palavras ecoando em meus ouvidos e um sorriso livre estampado no rosto.
Eu consegui.



Te vejo um dia desses no estúdio, Rick.