quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Capítulo Dezoito.

(Devidas desculpas à vocês, caras leitoras. Tenho passado por momentos não tão agradáveis, mas já tinha esse capítulo guardado há um tempo hihi (:
Esse cap contêm música, meu povo. E é a Dreamscape, do 009 Sound System. Apartir do momento em que aparece no texto "A música trocou", é onde a Dreamscape entra *-*
009 Sound System - Dreamscape.mp3)



A boate era pura adrenalina.
As cores néons entrelaçavam-se saindo do teto e recaindo no mar de corpos dançando na pista de dança. O DJ, por incrível que parecesse, era realmente bom, deixando todos um tanto loucos – é claro que havia mais do que a música mexendo com a mente deles.
Estava tocando um rock remixado e algumas músicas eletrônicas atuais. Nunca tinha visto um universo tão cheio ser tão reconfortante.
Sam só atraia olhares. Masculinos e femininos. Os olhares de desejo e inveja eram palpáveis, chegando a serem engraçados. Fiquei imaginando por uma fração de segundo o que pensavam de mim ao lado dela.
Puxou-me para o bar e eu sabia o que ia pedir. Todas as amigas desconhecidas de Sam sentaram-se nos puffs de cores chamativas que, mesmo afastados da pista de dança, ainda faziam com que as batidas graves ressonassem na alma.
“O de sempre!” Gritou. Mal virou a cabeça para meu lado e voltou a gritar. “Aliás, dois!” e sorriu.
Enquanto esperávamos as bebidas, observei aquela atmosfera barulhenta e hipnótica. Era tão claustrofóbica. Mas parecia tão necessário continuar ali, tentar sempre sugar o máximo de oxigênio possível e continuar...
Não se via alguém como eu. Triste. Deprimido. Encolhido nos cantos.
Ali dava para ser qualquer um e ninguém ia se importar.
Vi de longe o garçom chegando. Sorriu para mim, agradando a clientela, e parou na minha frente, olhando a jovem de cabelos ruivos de costas para ele. Dei um pigarro de leve até Sam virar-se. Na bandeja, duas taças vermelhas repousavam.
“Com licença.” Disse bem perto de nossos ouvidos para ouvirmos e entregou os copos. Tirou do bolso do avental um papel e entregou para Sam. “Eles desejam que vocês tenham uma ótima noite.” Finalizou, sinalizando com a cabeça para uma dupla de rapazes espantosamente lindos com taças iguais as nossas e foi embora. Os dois piscaram, exibindo um enorme sorriso e brindaram, levantando a bebida avermelhada ao ar.
Sam arfou um pouco e caímos em risadinhas.
“Será que tem álcool?” disse, e molhou seus lábios na beirada do copo. Agora eu sabia o que pensavam de mim em meu estado deprimente. “Não parece ter...” Virou o copo no mesmo minuto que minha boca abriu um “O”. Tomei um longo gole.
Sentamos nos bancos do bar para analisar-mos o papel. Tinha dois números de telefone com dois nomes: Ralph e Dan.
“Será que deveríamos ligar?” Disse Sam.
“Você tem namorado!”
“Mas você não tem.” Aqueles olhos infantis estavam começando a ficar vermelhos.
“Sam! Pelo amor de Deus!” Estava perplexa. Justamente eu iria ligar para acompanhantes masculinos? Minha depressão não estava para tanto.
E a bebida, com toda certeza, tinha um pouco de álcool.
“Tá certo. Você tem o Rick, não é mesmo?”
“Na verdade não.”
Olhou-me com desdém, daquele tipo que diz “fala outra!”. Deixou o copo no balcão e olhou para a pista de dança, imitando a mim. Um minuto e tudo que ouvíamos era a barulheira do salão.
“Vamos dançar?”
Aquela frase soou mais perfeita do que qualquer outra.
Quando olhei para Sammy novamente, pude sentir que eu não precisava de ninguém realmente. Eu queria dançar, mas não como eu dançava com Rick, não. Sem a tensão, sem o sentimentalismo, sem o significado. Eu queria dançar por dançar. Porque para mim, qualquer coisa que fazia-me mexer meu corpo era sinônimo de felicidade.
Ou bem perto disso, eu admito.
Não esperou nem a resposta. Já pegara minha mão e lançara-se para o labirinto de pessoas balançantes, deixando para trás sua bebida favorita em dose dupla. Achando a brecha necessária, um ponto da pista era adequado para dançarmos. Quando olhei para trás, todas as amigas anônimas estavam ali também.
A música trocou. Eu sabia o que fazer.
Fechei meus olhos e esperei.
Esperei ela chutar as paredes de meus bloqueios e invadir-me.
Tudo era como câmera lenta. Nada mais se movia. A música era tão grave e tão autêntica como nenhuma outra. Os montes de pessoas grudadas à minha volta não existiam.
Meu corpo relaxou completamente, e os fios de meu cabelo pareciam quererem se soltar. Em um segundo o compasso ritmou com as batidas erráticas de meu coração.

You can do anything you want to.
You can do anything.

Parecia que só existiam as luzes coloridas dançando sobre meus cabelos, cujo eles voavam para todos os lados no tempo da música. As graves vibrações batiam em meu peito e desciam pela coluna vertebral. Nenhum corpo desconhecido parecia me tocar, ao mesmo tempo em que não importei se meu cabelo, devidamente longo, batesse em alguém.
Está acabando, disse a mim mesma, e abri os olhos, acabando com o êxtase.
As luzes martelaram um par de olhos – saindo da ilusão, eu não podia confirmar – mas a luz, mesmo possivelmente sendo verde, não poderia deixar aquele olhar tão verde quanto era.
Mas foi tudo em uma fração de segundo.
Rick?
E sorri comigo mesma.
“Talvez a dança me persiga em forma de um Rick espião.” Disse aos meus botões, enquanto tropeçava em jovens sorridentes de uma madrugada nova-iorquina depois de uma noitada com amigos ocultos.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Capítulo Dezessete.

Nas ruas da madrugada nova iorquina, tudo era festa.
Talvez, se algum pedestre passasse por mim sobriamente durante aqueles minutos, diria que era a única sem estar chapada, sorrindo como uma louca.
Minhas mãos enterradas nos bolsos do casaco e a face fechada não eram convidativas.
Resolvi – percebam, eu deduzi! – fazer algo. Ir a algum lugar. Sorrir um pouco. Prometi a mim mesma que isso não envolveria drogas ilícitas e porcentagens altas de álcool. Prometi, principalmente, que me faria feliz sozinha. Auto-suficiente.
E essa dedução levou-me a outro pensamento.
Ao qual eu sabia como ficar feliz.
Dançando.
Balancei a cabeça, afastei o pensamento. Já não prestava atenção nos meus pés desde que saíra do apartamento. Daqui a pouco trombava com um dos sorridentes que passavam por mim.
Parei em uma esquina, procurei a placa. Meio apagada com o tempo, lembrou-me estar a poucas ruas de uma boate aonde eu e Sam íamos antes de cair na depressão. Sempre fora minha salvação. Dançar, não me importando em estar dentro das regras. Sorrir freneticamente com o excesso de glicose que as bebidas com frutas exóticas me proporcionariam.
Dirigi-me até ali, tentando apagar a desilusão de que o clube estivesse fechado por estar no meio da semana. Mas afinal, Nova York não tinha regras. A vida ali, mesmo sendo complicada, podia ser divertidíssima se você não ligasse para, meramente, nada.
Apenas a sorrir e entregar-se a felicidade.
Oh Deus...
Naquele ponto, já estava bem mais próxima do clube. Havia várias pessoas ali perto, indo na mesma direção que eu tomava. Passados uns segundos, ouvia o burburinhos das filas de entrada. Depois veio a batida grave que o DJ coadjuvante reproduzia.
A boate noturna Nitrous era abordada por todas as idades, todas as opções sexuais e de estilo. Lembro que Sra. Goldenbrown ficara assustada na primeira vez que levara-nos à boate. Seus anos como Love and Peace foram apagados com o tempo.
“Isso mais parece uma miscigenação, querida!”
É Nova York, mamãe.”
Já na fila, lembrei do quanto era insuportável esperá-la. Os corpos debatendo-se na desenfreada excitação para entrar na melhor boate de Manhattan. Isso durou até Sam resolver nos tornar VIPs do local.
Em um impulso irracional, coloquei as mãos nos bolsos. É claro que meu cartão não estava lá. Não pertencia àquele local há três anos!
Comecei a fazer um breve resumo do que perdera nesses anos de espera vaga. Desperdício à minha jovem vida. Onde eu poderia ter rido, me divertido, feito tudo que garotas da minha idade naturalmente fazem... Não. Resolvi sofrer por alguém que nunca voltaria.
E foi quando um peso se apoderou em meus ombros.
Mas não era o tipo de peso que estou acostumada – o peso sentimental. Era um peso humano, físico.
“Jane! Jannie! J!”
O mesmo peso virou-me para trás e vislumbrei-a. Minha adorável amiga hippie – ooops! – com o mais longo sorriso. Os olhos, naturalmente brilhantes, adornados com uma maquiagem prata. Os cabelos mais vermelhos, com tirinhas de couro espalhadas naquela imensidão.
“Sam, o que diabos está fazendo aqui? Temos aula amanhã.”
“Eu é que pergunto senhorita.” E apertou minhas bochechas. Qual é a de apertar minhas bochechas? Ela repete o mesmo gesto desde que nos conhecemos.
Não respondi. Na verdade, não tinha explicação. Eu só não achava certo ir à escola, de algum modo. Estava nula demais. Vazia demais.
Sam percebeu meu olhar. No meio de tanta euforia e decadência em termos iluminação, conseguiu decifrá-lo. O olhar que ela com certeza vira por três anos inteiros.
“J...”
Olhei-a e, com todas as minhas habilidades, formei um conveniente sorriso. Eu só esperava ser convincente o bastante.
“Não é o fim do mundo, Sam. Apenas me precipitei.”
Seus olhos transparentes tornaram-se tão magoados que odiei ter até mesmo saído de casa. Depois de um momento, olhou para mim novamente, e parecia decidida.
“Não vou desistir. Isso não é para sempre, é?”
Tão positiva. Aquilo enchia-me de esperança.
“É claro que não é.” E sorri verdadeiramente, sendo acompanhada pela fachada luminosa do sorriso de minha melhor amiga.
Puxou-me pelo casaco, ao mesmo tempo em que desprendia meus cabelos e os desarrumava. Foi até o segurança, não respeitando a fila, e mostrara seu cartão VIP dourado. Nunca vira uma extensão tão longa de dentes brancos serem mostrados por um segurança de boate. Destrancou a porta e deixou-nos entrar, levando a fila à cólera.
“A propósito...” começou Sam. “Hoje é Sexta à noite.