segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Capítulo Onze & Extra - Um Atraso.

(Divulgando a comunidade again aqui! (: espero que gostem, obrigado sempre pelo apoio e comentem!)


Ainda estava em choque no caminho para o metrô, e também quando cheguei ao apartamento, e também quando destranquei a porta e encarei minha mãe desesperada ao telefone.
Ela, com seu cabelo curto e repicado, seus olhos cansados e a maquiagem borrada por choro quase gritaram quando adentrei a porta.
E ela não estava sozinha. Aquelas amigas fofoqueiras dela estavam lá, mas...
...Mas com seus maridos.
“Jane, querida! Pelo amor de Deus, aonde você estava? Me matou do coração!” mamãe disse, me apertando as costelas contra si.
“Você nunca está aqui quando chego.” Murmurei, mais para mim mesma.
“Anne, então nós já vamos, ok?” disse uma das amigas de mamãe. Aquela maquiagem pesada na face à deixava medonha.
“Err, claro. Obrigada por toda a ajuda.”
Ajuda?
Quando os quatro casais – contei, é. – saíram, encarei minha mãe, perplexa.
“Ajuda? Que ajuda?”
“Ajudaram a te achar.” Resmungando, ela começou seu discurso, se bem que ela não tinha muita autoridade para isso. “Eu chego aqui e já são nove horas da noite. Penso que você já foi para a cama, mas cadê? E então, quando o relógio bate dez e meia você entra pela porta como se isso fosse totalmente normal! Você é uma criança, Jane. Você não é dona do seu próprio nariz.”
A raiva me deixou cega. A respiração se dificultou, minhas bochechas queimaram e a água acumulou nos olhos. O que ela pensava que ela era? Com um suspiro, tudo saiu.
“E aonde você estava todo esse tempo? Eu nunca vejo seu rosto! Eu acordo para ir a escola e onde você está? Passo as tardes fora para não ficar sozinha e onde você está? Eu chego no horário certo para uma criança, como você mesma disse, e onde você está? Se sou tão infantil assim, porque não tenho uma mãe presente para me ajudar a amadurecer?”
“Colocando dinheiro nessa casa para você se alimentar!”
“Quem disse que eu uso o seu dinheiro? Eu trabalhava, se lembra? Papai também trabalhava. Eu como com aquele dinheiro. Eu faço as compras de casa com esse dinheiro. Eu não uso um centavo seu, até porque nunca o vi! Nem ao menos sei no que você trabalha.”
“Você é minha filha! Não tem direito de falar assim comigo.”
“Você como mãe deveria ter autoridade para ser uma.”
Ela se calou, me encarando, apática. Depois de um tempo, seus olhos abaixaram-se, encarando ao chão, curvando as costas em defesa e se arrastou para seu quarto.
Fui até o meu e tranquei-o. Colei as costas na porta e escorreguei, afundando no chão de madeira. Apoiando os cotovelos nos joelhos, o choro não parou. Não estava triste com minha mãe, estava com raiva dela. Raiva de ela achar que dependo dela. Raiva de ela achar que devo satisfação à ela. Eu vivo minha vida praticamente sozinha. Ela é só uma imagem que aparece quando penso na palavra mãe – mesmo meu cérebro tendo que reformular essa figura. Uma mãe cuida de uma filha de 16 anos. Uma mãe está presente mesmo que seja para desejar boa aula no café da manhã ou para dar um beijo enquanto você está dormindo e ela precisa ir trabalhar.
Eu não a via entrar nem sair, não sabia onde trabalhava, não sabia se comia algo. Era como dividir um apê com alguém que apenas precisa de moradia – ele só mora com você, mas as vidas são completamente longínquas. Isso não acontece com pessoas com laços de sangue, acontece?
Depois que me certifiquei que a raiva saíra por inteiro, fiquei desesperada. Aquele quarto desordenadamente familiar estava tão vazio. Um buraco em meu peito se abriu, causando uma dor nauseante.
Se eu tinha esse vácuo na vida com minha própria mãe, imagine com os outros?
Será que eu estava tão...
Sozinha?
Corri ao telefone, e naquele momento, eu quis voltar ao estúdio. Eu quis ficar lá para sempre, se fosse capaz. Dançando eu não tinha problema nenhum com o mundo. Era o contrário: ele me saudava. Eu era alguém naquele estúdio de dança.
Os dedos correram pelas teclas do telefone sem fio, e os segundos passavam enquanto ninguém atendia. Quando a voz fina ecoou do outro lado da linha, o buraco em peito começou a se fechar.
“Sam? Posso falar com você... por um tempo?”
Eu quase à ouvi sorrir de satisfação.

X

Um Atraso.


Com dificuldade para respirar, eles se afastam, atordoados.
O suor está grudado nas mãos, nas nucas.
Os olhares se cruzam.
Ele abaixa o olhar e vai até a bancada, acende um cigarro e traga.
Ela corre para o sofá, se apronta, coloca a bolsa sobre os ombros.
Ele oferece um cigarro.
Ela hesita ao negar.
Apressadamente, ela sai do estúdio de dança e encara o vento insuportável da noite em New York.
Ele solta a fumaça branca pela boca, satisfeito com as horas perdidas.
As melhores horas perdidas.

domingo, 27 de setembro de 2009

Comunidade no orkut!

Gente, post rápido de domingo às 11 da noite só para divulgar a comunidade do SMSA-L (criei uma abreviação, ficou estranha) no Orkut! Muita gente achou que seria melhor para divulgação, ou até para os comentários, idéias e pans. (:

Clica aqui!

Amanhã, se conseguir entrar aqui e escrever algo, posto novo capítulo.
See yah, love u all <3

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Capítulo Dez.

(com quase 1 mês de atraso, eu peço desculpas. muitos rolos fizeram de mim uma impossibilidade postar aqui. outra coisa que piorou a situação foi o fato de eu ter parado de escrever. fiquei com medo de postar demais e não ter de sobra. mas agora eu lhes dou um capítulo novo. e AH, arranjei um novo modo de colocar as músicas. como esse cap tem dança, achei a música no 4shared e deixei o player aqui. caso gostarem, só clicar para fazer download! o/ espero que gostem, de verdade (: )

11-Bolero (Closing Credits) [Original Film Version]-Simon Standage-Moulin Rouge 2.mp3

“Acho que vou hoje ao estúdio.”
Perplexa pelo que eu disse, ou surda com o sinal de término das aulas, Sam se aproxima de mim.
“O que disse?” fala ela, com a voz duas oitavas à cima.
“Acho que vou hoje ao estúdio começar as aulas de tango.” Disse um pouco mais alto e mais próximo de seu ouvido, encarando a dúvida em seus olhos como surdez.
“Eu não posso acreditar no que estou ouvindo. Isso é ótimo Jannie!” as últimas palavras foram ditas bem próximas de mim, quando jogou os braços em meu pescoço e me esmagou num daqueles abraços casuais dela. Agora, já estávamos fora da escola. A multidão de gente acercava o pátio.
“É.” Me resumi a isso.
“Bom, então fazemos assim. Pego o metrô com você e te acompanho para lá, tudo bem?”
“Mas Sam, não acha que é meio long–”.
“Claro que não! Dali já vou para a ponte e direto em casa. Só quero ir até lá com você. Vai ver eu tenho o prazer de conhecê-lo.”
“Não sei se ele é muito dessas coisas. Ele é um mistério.” Sussurrei, com a mão na lateral da boca, confidenciando com humor. Ela gargalhou.
“Os misteriosos tem motivos. Vai ver ele é um pedófilo.”
Bati nela, e um ganidinho agudo cheio de risadinhas saiu. Continuamos rindo e jogando as palavras ao vento – que, aliás, estava extremamente forte naquele dia – enquanto caminhávamos. Pegamos o metrô, e Sam não tocou mais no assunto.
Quando percebi, estava na frente da porta velha que guardava um mundo dentro dela. Um tremor passou por mim. Foi por causa do vento, foi por causa do vento... é. Eu queria acreditar nisso.
Sam se aproximou da porta e olhou para dentro da janelinha. Qualquer um que passasse por ali agora, perto demais, ouviria o tango remixado. Tinha a batida eletrônica profunda de fundo, mas os violinos continuavam ali. Tudo aquilo só deixava a música mais contagiante.
“Eu ouço.” Ela disse, olhando para a escada ali de dentro, impressionada. “É lindo J, é maravilhoso.”
Não disse nada. Ela retirou seu olhar da porta e me abraçou. Enterrei meu rosto no cabelo ruivíssimo ondulado.
“Se cuida, está bem?”
“Claro.”
“Dance com sua alma, por mim.” Sorrindo, ela dá um aceno, joga um beijo perdido pelo vento e saí andando até o metrô.
Sem escolha – uma parte de mim não queria ter outras, na verdade –, girei a maçaneta. Os passos ritmados que ecoavam da madeira para as paredes pararam repentinamente, enquanto a bela música continuava. É isso aí, o show começou, pensei, subindo as escadas já formando em meu longo cabelo um sinuoso coque.
E no alto da escada, lá estava ele. Escultural, com o cabelo bagunçado, a roupa preta e os braços descobertos. Os olhos traziam a surpresa e o prazer, que dificilmente defini.
“Ora ora.” Disse, se encostando na lateral da porta. “Pensei que tinha me abandonado.” O sorriso majestoso de satisfação atravessou seu rosto. Meu coração dava pulos, minhas pernas tremiam debilmente.
“Eu realmente queria aprender a dançar tango.”
“Estou vendo.” Percebendo que eu chegara ao fim dos degraus, me deu passagem. Fui direto para o sofá, onde retirei o casaco e o lenço marroquino, substituindo o All Star velho pelos sapatos de tango brilhantes. Naquele momento, o medo sumira, e meu corpo se inundara de curiosidade e ansiedade. Eu queria aprender aquilo. Desligar-me do mundo por um tempo, umas horas. Aprender uma dança tão envolvente como aquela.
Rick estava do outro lado da sala, apagando o cigarro aceso que estava no cinzeiro, quieto. Trocou a música e apertou play, mas a música não começara por inteiro. Só tinha a batida, fraca e imperceptível.
Dirigi-me ao ponto central da sala, não olhando para meu reflexo. Ele se aproximava devagar, com a cabeça baixa, os olhos turvos. Quando chegou bem perto de mim, levantando a cabeça, ele estava feroz, mais misterioso impossível. Começou a me circundar, tão perto que nossos corpos se tocavam.
“Tango tem suas regras, mas tem suas liberdades.” Sussurrou, os lábios quase roçando em minha orelha. “Trata-se estritamente de desejo, paixão e voracidade. As músicas demonstram isso. É só senti-las e estará dançando. Elas manipulam. Nossas mentes correspondem sem pedir nenhuma permissão.” Sempre sussurrando, causando arrepios a cada vez que assimilava as palavras e sentia seu hálito quente no espaço embaixo de meus brincos, ele se postou diante de mim, erguendo meus braços e os depositando nos dele, se colando à mim, os rostos perto demais. Abaixou a cabeça, e a boca estava muito próxima de meu ouvido. “É Tango, e nada mais.”
E quando a frase terminou, os violinos deram início e na mesma fração de segundo, ele estava se movendo.
Depois de me recuperar do susto, a música invadiu todas as minhas veias, deixando-me em puro transe. Eu não pensava, eu não agia, eu não me repelia, muito menos estava consciente do barulho perturbador de Nova York abaixo de nós. Minha mente era apenas violinos, e eu só tinha certeza que suas mãos segurava firmemente minha cintura. Meus pés traçavam linhas no chão liso, trançando e cruzando, sempre com a música. Em uma mudança da batida, ele agarrou a dobra de meu joelho esquerdo com a coxa e puxou para sua própria cintura. Estava concentrada demais para entrar em choque no momento. A música não era violenta nem romântica, mas era perfeita. Tinha a agilidade dos momentos empregados, e tinha a sutileza no ponto certo, sem exageros.
E ela continuou, nós, rodopiando pela sala, enquanto Rick mostrava passos de dança que já tinha visto, só que nunca interagido. O ar me faltava, e eu tentava resgata-lo com quantidades absurdas. Suor cobria as partes do meu corpo, principalmente na nuca e as costas. Os olhos dele não se desprendiam do meu – não havia público ali para provocar. Não conseguia imaginar, naquele momento, como aquele casal fazia aquilo. Era pessoal demais, íntimo demais, secreto demais. Como se deixavam levar, desse jeito, no meio da rua, com milhares de espectadores?
As músicas iam trocando. Quando uma acabava, mal nos afastávamos para recobrar o fôlego e a próxima começava. O transe não me deixava nunca. Cada música era refletida em minha mente e reproduzida por meu corpo, sem minha autorização.
O crepúsculo reinava no céu, já estava ficando mais tarde do que eu percebera. Segurando-me pela cintura, no ápice da música, inclinou-me para trás, tendo eu que jogar a cabeça no mesmo sentido. Senti os fios desprezos de meu cabelo encostar no piso, e para voltar, ele deu um tranco, me puxando para si de novo.
O tempo foi passando, e o horizonte, escurecendo. A maneira que minha cabeça navegava nas músicas não me fazia pensar no certo e errado. O certo que deveria voltar para casa. O errado por estar indo longe demais. Mas, pela primeira vez, eu não me importava.
O mundo lá fora não fazia sentido ali dentro.