quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Capítulo Doze.

(Desculpem a demora! Estou muito atrasada. Enjoy it (: )

Eu diria que eram umas 2 horas da manhã agora. O vento cortava meus pensamentos e tapava meus ouvidos, cegava meus olhos com o cabelo levado ao rosto. A friagem ali me fazia mal, mas era uma boa causa.
Atravessar a ilha de Manhattan durante a noite, sozinha, com as luzes dos postes falhando e o vento fazendo sua base esquelética tremer a cada passo não era aconselhável – principalmente tendo grupos de drogados vagando por aí atrás de uma garotinha indefesa.
Mamãe não percebera minha saída discreta. Precisei de três minutos depois de uma conversa com Sam para arrumar a mala, encher o interior do edredom de almofadas e sair como uma fugitiva pela escada lateral. Atravessando a ponte do Brooklyn, percebia o quanto bonito aquele lugar ficava ao anoitecer.
Quando cheguei ao prédio de minha amiga, eu vi. Aquelas duas figurinhas branquelas com cabelo cacheado ruivo todo despenteado que emoldurava dois rostos adormecidos na porta do saguão. Usavam pantufas, com pijamas de seda azul ciano. Aproximei-me, e toquei de leve o braço de Sam que, com a movimentação, acordara sua irmã primeiro que ela mesma. Seu rosto se encheu de alegria enquanto soltava um enorme bocejo.
"Você chegou!" disse, se apertando contra mim. Brendah era tão alegre e radiante quanto à irmã, sempre exibindo um sorriso que podia fascinar a qualquer um. Parecia um mini clone da irmã mais velha, e eram unidas de uma forma tão amistosa que ninguém compreendia. Um amor que transbordava – você sentia a harmonia no ar que estava ao redor delas.
Sam, desperta apenas pela metade, abraçou-me carinhosamente, e minha paz foi completa.
"Acha que não vai ter problema mesmo?" sussurrei ainda abraçada à ela.
"É claro que não. Aqui é sua casa, lembra?" disse, se afastando para olhar meu rosto e sorrir de um jeito reconfortante.
De mãos dadas, nós três – e o ursinho rosa que Brendah carregava bravamente junto ao peito – subimos o elevador até o apartamento. A porta, entre aberta, mostrava um interior escuro, e eu agradeci a Sam não ter acordado os pais para me receberem.
Entramos e fomos direto ao quarto, que continha um colchão a mais. O cômodo tinha tons neutros, mas tinha a cara das irmãs Goldenbrown: cintilava. Fotos de famílias, amigos – muitas fotos comigo, se quer saber – e namorado. Nate e eu preenchíamos as lembranças. Coisinhas hippies, como mandhalas, flores, coletâneas antigas e vintage stuff preenchiam cada centímetro do lugar. A mesa de trabalho de Sam era a maior bagunça – tecidos floridos, tiras de couro, rendinhas, máquinas de costura quebradas e uma nova que, que eu me lembrava, funcionava. Um notebook riscado, tesouras, botões, broches, apliques, esmaltes, câmeras fotográficas, rádios, discos, wayfarers, entre mais coisas indecifráveis. O apartamento tinha estabilidade para cada morador – até eu – ter um quarto só para ele, mas Sam dormia no mesmo quarto que Brendah. Ela se sentia melhor, além de deixar sua irmãzinha batendo palmas por causa disso. Era amor demais para uma vida.
Troquei de roupa e observei Sam por Brendah na cama, a cobrir e beijar sua bochecha de forma carinhosa. Chegou até mim e me abraçou, tão forte que fez minhas costelas doerem.
"Eu sempre estarei aqui, nunca se esqueça disso." disse-me, e beijou o alto de minha cabeça, indo em direção de sua cama e apagando o abajur, para entrar nas cobertas e não sair do estado mudo por horas, assim como eu, se eu conseguisse dormir.