terça-feira, 17 de novembro de 2009

Capítulo Treze.

Acordei sentindo-me extasiada. O brilho amarelo do sol pelas cortinas brancas que cobriam as janelas era alegre, fazia-te acordar com um suave sorriso no rosto. E eu sorri. Era a primeira manhã de minha vida que não acordava com um peso em meus ombros. Era tão fácil sentir-se feliz ali.
Verifiquei as camas e as encontrei vazias. Sam não me deixaria atrasar para a aula, não é? Calcei as pantufas emprestadas e fui até o grande corredor, me dirigindo ao leve cheiro de café com leite e cereais.
E lá estavam. Todos eles. A família perfeita. Sra. Goldenbrown e sua cabeleira ruiva presa em uma rabo-de-cavalo distribuía sorrisos servindo as filhas com torradas, cereais e pães. Os olhos castanhos pareciam ser claros – brilhavam de uma forma tão viva. Sr. Goldenbrown tomava seu café tranqüilamente, com o jornal devidamente lido de lado, enquanto brincava com Brendah entre caretas e risadas. Sam estava concentrada em sua mais nova criação para o verão – a coleção de roupas da primavera já estava pronta –, não olhando nem ao menos para a salada de frutas que comia. Quando me tornei visível na cozinha, todos os rostos se voltaram para mim com o mesmo sorriso alegre e exuberante, verdadeiro em cada curva de lábios.
"Bom dia Jane." disse Sra. Goldenbrown, contornando a mesa para me abraçar. "Fiquei preocupada quando Sammy disse que veio andando de sua casa até aqui. Devia ter combinado de vir mais cedo."
"Tudo bem. Peço perdão se preocupei à senhora." murmurei, sentindo minhas bochechas corarem, abaixando os olhos para os pés.
"Senhora? Não existem senhoras aqui. Sente-se a mesa, vocês precisam ir para a escola ainda."
Com um sorriso tímido, sentei ao lado de Sam que, depois de alguns rabiscos pequenos, olhou para mim com um sorriso pequeno e as sardas mais acesas do que nunca.
"Dormiu bem?"
"Sim, sim. O colchão é mais confortável que minha própria cama." confidenciei, enchendo-a de risinhos.
"Quanto tempo não nos vemos, Jane. Como vai você e sua mãe?" disse Sr. Goldenbrown, que limpava a boca de Brendah cheia de chocolate.
Sam olhou-me de canto de olho quando seu pai terminou a pergunta. Engoli em seco, abaixando os olhos para o prato de cereais a minha frente. Comecei a preparar.
"Tudo como sempre..." notando a falta de continuação, corri para terminar. "Normal."
Sam suspirou de alívio.
"Fico feliz." disse, levantando-se. Deu um beijo na cabeça de Brendah e Sam, e um pequenino beijo apaixonado em sua esposa, se despedindo de todos.
A família mais feliz que conhecia. A harmonia e energias positivas circundavam cada cômodo, cada respiração das pessoas, cada sorriso. Amavam-se. Amavam verdadeiramente.
Com um susto ao reparar no relógio, Sam e eu largamos o café da manhã no meio. Ela podia ter terminado antes de mim, mas não largava o desenho nunca, mesmo sua mãe chiando quanto a isso. Trocamos-nos o mais rápido que podíamos e encaramos as ruas do Brooklyn, correndo pela ponte para pegar o metrô.
A cidade parecia diferente. Nova York é viva em cada instante de carros circulando pelas ruas, mas hoje estava esquisita. Colorida, alegre, não somente viva. Havia uma harmonia nas coisas, um sorriso nas pessoas, um leve sentimento de que as desgraças poderiam ser esquecidas por um tempo, por uns minutos, por uns dias depois de hoje.
O mais engraçado era que tudo isso parecia envolver o universo inteiro, menos a mim.
Ao contrário dos outros, parecia que o dia precisava ser o pior de todos.
De repente, um peso se deslocou para minhas costas novamente. Mas era um peso diferente, não aquele peso atmosférico sentido com o tempo úmido e abafado. Era um peso que me fazia ter vontade de chorar. Como se meu corpo estivesse acostumado a chorar ali, naquele momento, naquele dia. Era uma necessidade de encolher-me em um canto e arrancar água pelos olhos até a última gota em meu corpo.
"Sam, que diabos de dia é hoje?"
Sam olhou-me com brilhantes olhos positivos.
"Hoje é o início da primavera! Por quê?"
Meus olhos se inundaram.
Feliz Aniversário, Matt.