terça-feira, 15 de setembro de 2009

Capítulo Dez.

(com quase 1 mês de atraso, eu peço desculpas. muitos rolos fizeram de mim uma impossibilidade postar aqui. outra coisa que piorou a situação foi o fato de eu ter parado de escrever. fiquei com medo de postar demais e não ter de sobra. mas agora eu lhes dou um capítulo novo. e AH, arranjei um novo modo de colocar as músicas. como esse cap tem dança, achei a música no 4shared e deixei o player aqui. caso gostarem, só clicar para fazer download! o/ espero que gostem, de verdade (: )

11-Bolero (Closing Credits) [Original Film Version]-Simon Standage-Moulin Rouge 2.mp3

“Acho que vou hoje ao estúdio.”
Perplexa pelo que eu disse, ou surda com o sinal de término das aulas, Sam se aproxima de mim.
“O que disse?” fala ela, com a voz duas oitavas à cima.
“Acho que vou hoje ao estúdio começar as aulas de tango.” Disse um pouco mais alto e mais próximo de seu ouvido, encarando a dúvida em seus olhos como surdez.
“Eu não posso acreditar no que estou ouvindo. Isso é ótimo Jannie!” as últimas palavras foram ditas bem próximas de mim, quando jogou os braços em meu pescoço e me esmagou num daqueles abraços casuais dela. Agora, já estávamos fora da escola. A multidão de gente acercava o pátio.
“É.” Me resumi a isso.
“Bom, então fazemos assim. Pego o metrô com você e te acompanho para lá, tudo bem?”
“Mas Sam, não acha que é meio long–”.
“Claro que não! Dali já vou para a ponte e direto em casa. Só quero ir até lá com você. Vai ver eu tenho o prazer de conhecê-lo.”
“Não sei se ele é muito dessas coisas. Ele é um mistério.” Sussurrei, com a mão na lateral da boca, confidenciando com humor. Ela gargalhou.
“Os misteriosos tem motivos. Vai ver ele é um pedófilo.”
Bati nela, e um ganidinho agudo cheio de risadinhas saiu. Continuamos rindo e jogando as palavras ao vento – que, aliás, estava extremamente forte naquele dia – enquanto caminhávamos. Pegamos o metrô, e Sam não tocou mais no assunto.
Quando percebi, estava na frente da porta velha que guardava um mundo dentro dela. Um tremor passou por mim. Foi por causa do vento, foi por causa do vento... é. Eu queria acreditar nisso.
Sam se aproximou da porta e olhou para dentro da janelinha. Qualquer um que passasse por ali agora, perto demais, ouviria o tango remixado. Tinha a batida eletrônica profunda de fundo, mas os violinos continuavam ali. Tudo aquilo só deixava a música mais contagiante.
“Eu ouço.” Ela disse, olhando para a escada ali de dentro, impressionada. “É lindo J, é maravilhoso.”
Não disse nada. Ela retirou seu olhar da porta e me abraçou. Enterrei meu rosto no cabelo ruivíssimo ondulado.
“Se cuida, está bem?”
“Claro.”
“Dance com sua alma, por mim.” Sorrindo, ela dá um aceno, joga um beijo perdido pelo vento e saí andando até o metrô.
Sem escolha – uma parte de mim não queria ter outras, na verdade –, girei a maçaneta. Os passos ritmados que ecoavam da madeira para as paredes pararam repentinamente, enquanto a bela música continuava. É isso aí, o show começou, pensei, subindo as escadas já formando em meu longo cabelo um sinuoso coque.
E no alto da escada, lá estava ele. Escultural, com o cabelo bagunçado, a roupa preta e os braços descobertos. Os olhos traziam a surpresa e o prazer, que dificilmente defini.
“Ora ora.” Disse, se encostando na lateral da porta. “Pensei que tinha me abandonado.” O sorriso majestoso de satisfação atravessou seu rosto. Meu coração dava pulos, minhas pernas tremiam debilmente.
“Eu realmente queria aprender a dançar tango.”
“Estou vendo.” Percebendo que eu chegara ao fim dos degraus, me deu passagem. Fui direto para o sofá, onde retirei o casaco e o lenço marroquino, substituindo o All Star velho pelos sapatos de tango brilhantes. Naquele momento, o medo sumira, e meu corpo se inundara de curiosidade e ansiedade. Eu queria aprender aquilo. Desligar-me do mundo por um tempo, umas horas. Aprender uma dança tão envolvente como aquela.
Rick estava do outro lado da sala, apagando o cigarro aceso que estava no cinzeiro, quieto. Trocou a música e apertou play, mas a música não começara por inteiro. Só tinha a batida, fraca e imperceptível.
Dirigi-me ao ponto central da sala, não olhando para meu reflexo. Ele se aproximava devagar, com a cabeça baixa, os olhos turvos. Quando chegou bem perto de mim, levantando a cabeça, ele estava feroz, mais misterioso impossível. Começou a me circundar, tão perto que nossos corpos se tocavam.
“Tango tem suas regras, mas tem suas liberdades.” Sussurrou, os lábios quase roçando em minha orelha. “Trata-se estritamente de desejo, paixão e voracidade. As músicas demonstram isso. É só senti-las e estará dançando. Elas manipulam. Nossas mentes correspondem sem pedir nenhuma permissão.” Sempre sussurrando, causando arrepios a cada vez que assimilava as palavras e sentia seu hálito quente no espaço embaixo de meus brincos, ele se postou diante de mim, erguendo meus braços e os depositando nos dele, se colando à mim, os rostos perto demais. Abaixou a cabeça, e a boca estava muito próxima de meu ouvido. “É Tango, e nada mais.”
E quando a frase terminou, os violinos deram início e na mesma fração de segundo, ele estava se movendo.
Depois de me recuperar do susto, a música invadiu todas as minhas veias, deixando-me em puro transe. Eu não pensava, eu não agia, eu não me repelia, muito menos estava consciente do barulho perturbador de Nova York abaixo de nós. Minha mente era apenas violinos, e eu só tinha certeza que suas mãos segurava firmemente minha cintura. Meus pés traçavam linhas no chão liso, trançando e cruzando, sempre com a música. Em uma mudança da batida, ele agarrou a dobra de meu joelho esquerdo com a coxa e puxou para sua própria cintura. Estava concentrada demais para entrar em choque no momento. A música não era violenta nem romântica, mas era perfeita. Tinha a agilidade dos momentos empregados, e tinha a sutileza no ponto certo, sem exageros.
E ela continuou, nós, rodopiando pela sala, enquanto Rick mostrava passos de dança que já tinha visto, só que nunca interagido. O ar me faltava, e eu tentava resgata-lo com quantidades absurdas. Suor cobria as partes do meu corpo, principalmente na nuca e as costas. Os olhos dele não se desprendiam do meu – não havia público ali para provocar. Não conseguia imaginar, naquele momento, como aquele casal fazia aquilo. Era pessoal demais, íntimo demais, secreto demais. Como se deixavam levar, desse jeito, no meio da rua, com milhares de espectadores?
As músicas iam trocando. Quando uma acabava, mal nos afastávamos para recobrar o fôlego e a próxima começava. O transe não me deixava nunca. Cada música era refletida em minha mente e reproduzida por meu corpo, sem minha autorização.
O crepúsculo reinava no céu, já estava ficando mais tarde do que eu percebera. Segurando-me pela cintura, no ápice da música, inclinou-me para trás, tendo eu que jogar a cabeça no mesmo sentido. Senti os fios desprezos de meu cabelo encostar no piso, e para voltar, ele deu um tranco, me puxando para si de novo.
O tempo foi passando, e o horizonte, escurecendo. A maneira que minha cabeça navegava nas músicas não me fazia pensar no certo e errado. O certo que deveria voltar para casa. O errado por estar indo longe demais. Mas, pela primeira vez, eu não me importava.
O mundo lá fora não fazia sentido ali dentro.

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