quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Capítulo Quatorze.

(gente, eu nem deveria estar postando! estou com um bloqueio total de inspiração. mas odeio deixar vocês esperando. às vezes penso que se esqueceram de mim se eu demorar de mais, mimimi. então aí vai um capítulo um tanto melancólico. love yah <3 )


“Jane? Jane, você está bem?” Uma voz distante, emersa em ecos, me chamava. Não sabia da onde ela vinha, mas era de Sam.
Como em uma piscar de olhos, tudo se tornara diferente, como se não pertencesse à mesma dimensão que as coisas ao meu redor. Tornara-me cega, surda e muda.
Eu estava afundando, caindo gradativamente. Senti dolorosamente o impacto de meus joelhos na calçada. Tinha total consciência das coisas à minha volta agora – os carros no engarrafamento da ponte, buzinando em uma linguagem de batidas imaginárias; Sam tentando fazer com que eu voltasse à superfície; meus joelhos e mãos estendidos na passagem de cimento; as pessoas resmungando contra as garotas paradas no meio do caminho. Mas eu não estava mais ali. Eu não queria estar ali. Nunca mais.
Porque fora naquela ponte que ele me pedira em namoro há três anos – agora completos, dignamente. Que ele, de repente, abaixara a cabeça a ponto de ficar na altura da minha, e pela primeira vez encostara seus lábios nos meus. A primeira vez que eu me senti completa, quando, logo em seguida, pegou minhas mãos e sorriu, enquanto olhávamos o pôr-do-sol.
“É meu aniversário hoje.” Havia dito. Suas palavras sendo levadas pelo vento.
Agitei a cabeça, como se isso tirasse a imagem de minhas pálpebras. Nada mais fazia sentido. Porque eu acreditara fielmente que tinha superado! Eu finalmente encontrara um jeito de viver sem necessitar do passado, sem estar ligada à ele.
Mas a verdade era que eu nunca estaria curada, realmente. Eu precisava dele quando ele nunca precisou de mim, ou até de mais ninguém.
Tentei por tantas vezes, mas tantas vezes me esconder da realidade que esqueci do fato que, quando eu retornasse à ela, nunca deixar-me-ia esquecê-la. Nunca.
O passado nunca se desligaria de mim.
“Jane? Jane?” Sam continuava a me chamar, e onde estava o controle das cordas vocais? Onde estava minha maldita voz quando precisava dela?
Um zumbido não saía de meus ouvidos. As únicas coisas que passavam por meus olhos eram imagens dele – ele sorrindo, ele fazendo uma de suas famosas caretas, ele vivendo ao meu lado.
E foi aí, enquanto revisava cada arquivo de minha memória com ele, que desisti. Fechei meus olhos e contemplei as imagens, as lágrimas quentes escorrendo pelos cantos de meus olhos. Revivi, depois de tanto tempo, a cor quente de seu olhar, o sorriso branco tão perfeito, o cabelo ondulado de um castanho tão escuro. Dei liberdade para a lembrança de sua voz, de seu canto sussurrado em meus ouvidos acompanhado com o violão. Arrepiei quando, quebrando uma das barreiras mais fortes, lembrei de seu toque, suave, infantil muitas vezes, mas quente, febril. Enquanto dançávamos, na maioria das vezes. Era quando seus dedos brincavam com a pele das minhas costas ou com minhas mãos. Tinham sentimento. Necessitavam de mim.
Necessitavam...
De mim...
Agora eu não me importava mais. Tentando tomar uma atitude útil o bastante para respirar, deixei de fingir. Deixei de acreditar que conseguiria recomeçar sem ele.
A saudade te destrói. Retalha, igual a verdade. A verdade de que você sente saudade de alguém que não merece sua atenção dói.
Abri meus olhos e encarei, contra a luz do sol, os cabelos vermelhos de minha melhor amiga, e seu olhar devoto, preocupada, pairando sobre mim.
“Oh Jane...” sussurrou, com um peso enorme em sua voz. Estava com pena. Pena de mim. Seus braços me embalaram.
“Sam... Eu tentei. Eu juro que tentei. Mas ele... mas ele...” eu soluçava compulsivamente. Minha bochecha grudada com seus cabelos, suas mãos tranqüilizando – como sempre – minhas costas. Aquilo tinha efeito. Era como magia.
Sam não fez nada. Só ficou ali, silenciando-me, acalmando meus neurônios com sua acolhedora paciência. Será que algum dia conseguiria devolver todo o amor e carinho que ela havia me dado quando precisei?
Afastei-me dela para olhar seus olhos, e eles sorriam. Eram azuis piscina hoje. Brilhavam como água. Pegou minha mão, e disse apenas uma palavra.
“Vamos.”
E naquele momento deixei-me extasiar com a esperança – só para viver, respirar mais uma vez – que tudo daria certo.

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