terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Capítulo Dezessete.

Nas ruas da madrugada nova iorquina, tudo era festa.
Talvez, se algum pedestre passasse por mim sobriamente durante aqueles minutos, diria que era a única sem estar chapada, sorrindo como uma louca.
Minhas mãos enterradas nos bolsos do casaco e a face fechada não eram convidativas.
Resolvi – percebam, eu deduzi! – fazer algo. Ir a algum lugar. Sorrir um pouco. Prometi a mim mesma que isso não envolveria drogas ilícitas e porcentagens altas de álcool. Prometi, principalmente, que me faria feliz sozinha. Auto-suficiente.
E essa dedução levou-me a outro pensamento.
Ao qual eu sabia como ficar feliz.
Dançando.
Balancei a cabeça, afastei o pensamento. Já não prestava atenção nos meus pés desde que saíra do apartamento. Daqui a pouco trombava com um dos sorridentes que passavam por mim.
Parei em uma esquina, procurei a placa. Meio apagada com o tempo, lembrou-me estar a poucas ruas de uma boate aonde eu e Sam íamos antes de cair na depressão. Sempre fora minha salvação. Dançar, não me importando em estar dentro das regras. Sorrir freneticamente com o excesso de glicose que as bebidas com frutas exóticas me proporcionariam.
Dirigi-me até ali, tentando apagar a desilusão de que o clube estivesse fechado por estar no meio da semana. Mas afinal, Nova York não tinha regras. A vida ali, mesmo sendo complicada, podia ser divertidíssima se você não ligasse para, meramente, nada.
Apenas a sorrir e entregar-se a felicidade.
Oh Deus...
Naquele ponto, já estava bem mais próxima do clube. Havia várias pessoas ali perto, indo na mesma direção que eu tomava. Passados uns segundos, ouvia o burburinhos das filas de entrada. Depois veio a batida grave que o DJ coadjuvante reproduzia.
A boate noturna Nitrous era abordada por todas as idades, todas as opções sexuais e de estilo. Lembro que Sra. Goldenbrown ficara assustada na primeira vez que levara-nos à boate. Seus anos como Love and Peace foram apagados com o tempo.
“Isso mais parece uma miscigenação, querida!”
É Nova York, mamãe.”
Já na fila, lembrei do quanto era insuportável esperá-la. Os corpos debatendo-se na desenfreada excitação para entrar na melhor boate de Manhattan. Isso durou até Sam resolver nos tornar VIPs do local.
Em um impulso irracional, coloquei as mãos nos bolsos. É claro que meu cartão não estava lá. Não pertencia àquele local há três anos!
Comecei a fazer um breve resumo do que perdera nesses anos de espera vaga. Desperdício à minha jovem vida. Onde eu poderia ter rido, me divertido, feito tudo que garotas da minha idade naturalmente fazem... Não. Resolvi sofrer por alguém que nunca voltaria.
E foi quando um peso se apoderou em meus ombros.
Mas não era o tipo de peso que estou acostumada – o peso sentimental. Era um peso humano, físico.
“Jane! Jannie! J!”
O mesmo peso virou-me para trás e vislumbrei-a. Minha adorável amiga hippie – ooops! – com o mais longo sorriso. Os olhos, naturalmente brilhantes, adornados com uma maquiagem prata. Os cabelos mais vermelhos, com tirinhas de couro espalhadas naquela imensidão.
“Sam, o que diabos está fazendo aqui? Temos aula amanhã.”
“Eu é que pergunto senhorita.” E apertou minhas bochechas. Qual é a de apertar minhas bochechas? Ela repete o mesmo gesto desde que nos conhecemos.
Não respondi. Na verdade, não tinha explicação. Eu só não achava certo ir à escola, de algum modo. Estava nula demais. Vazia demais.
Sam percebeu meu olhar. No meio de tanta euforia e decadência em termos iluminação, conseguiu decifrá-lo. O olhar que ela com certeza vira por três anos inteiros.
“J...”
Olhei-a e, com todas as minhas habilidades, formei um conveniente sorriso. Eu só esperava ser convincente o bastante.
“Não é o fim do mundo, Sam. Apenas me precipitei.”
Seus olhos transparentes tornaram-se tão magoados que odiei ter até mesmo saído de casa. Depois de um momento, olhou para mim novamente, e parecia decidida.
“Não vou desistir. Isso não é para sempre, é?”
Tão positiva. Aquilo enchia-me de esperança.
“É claro que não é.” E sorri verdadeiramente, sendo acompanhada pela fachada luminosa do sorriso de minha melhor amiga.
Puxou-me pelo casaco, ao mesmo tempo em que desprendia meus cabelos e os desarrumava. Foi até o segurança, não respeitando a fila, e mostrara seu cartão VIP dourado. Nunca vira uma extensão tão longa de dentes brancos serem mostrados por um segurança de boate. Destrancou a porta e deixou-nos entrar, levando a fila à cólera.
“A propósito...” começou Sam. “Hoje é Sexta à noite.

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