segunda-feira, 1 de junho de 2009

Capítulo Três.

“Oh meu deus!” e esse foi o 37º “oh meu deus” que Sam tinha exclamado em pouco menos de 5 minutos.
Ah claro, Sam. Ela merece um parágrafo para ela, ou até um pouco mais.
Imagine aquela garota com roupas estampadas largas, meio hippie, com cintos de um couro ralo, sandálias trançadas e pulseiras até o cotovelo. Um cabelo ruivo perfeitamente ondulado até quase a metade das costas que é decorado com uma fina faixa de couro na testa, ou presilhas de flores de tecido e, para completar, um par de olhos claros, que até hoje não consegui afirmar se são azuis ou verdes de tão claros. Ela anda decidida por ai, e todos babam a cada passo dela, ou pela beleza inexplicável de seus olhos, ou de seu sorriso alegre, ou de tanto estilo concebido em uma criatura. Agora, bote a personalidade mais entusiasmada, divertida, brincalhona, carinhosa e mandona do universo. Ela se chama Sam, e é minha melhor amiga.
Exalando simpatia com todos (às vezes, até demais), tem o espírito de criança aflorado algumas horas, como da vez que venceu o concurso de pintura. Ninguém sai correndo gritando por Manhattan inteira quando se ganha um concurso, só ela. Tudo o que pode parecer assustadoramente normal para você é assustadoramente esplêndido demais para ela. Como ela soltar trinta e sete “Oh meu Deus” em menos de 5 minutos.
“Então ele se aproximou? E se aproximou mais? E ele te emprestou uma jaqueta de couro!” disse ela, quase gritando, rodopiando em um poste enquanto esperávamos o sinal trocar e adentrarmos o Central Park.
“Sim, ele se aproximou. Sim, ele sempre se aproximava mais. E me emprestou a jaqueta de couro, é. O que você não entendeu?” Estava começando a ser grossa demais, mas Sam nunca se sentia mal com isso. Porque enquanto a maioria das vezes eu estava completamente indiferente, ela gritava para os quatro ventes de empolgação. Ah, mas não queira me ver nos meus melhores dias, ou melhor, nos meus dias antes-Matt ou durante-Matt. Eu conseguia ser quase uma cópia idêntica de Sam, tirando a maturidade.
“Eu não entendo porque está tão mal-humorada. Não é sempre que um cara maravilhoso chega a menos de cinco centímetros do nosso rosto!”
“Eu só estou com preguiça de demonstrar minha felicidade.” disse irônica, enquanto cruzávamos o Central Park à procura de um banco.
“E eu duvido que você esteja tão mal-humorada assim. Há meses você não ficava tão abalada com um cara como esse. Eu vi senhorita, o brilho nos seus olhos enquanto descrevia os dele.” E apertou seu dedo indicador no meu nariz. “ ‘Olhos verdes como esmeraldas, esmeraldas que sorriam de um jeito malicioso!’ ” Copiou minha fala, tentando imitar minha cara ao descrever.
Eu não me contive e sorri, divertida, e caímos na risada juntas. Há tempos eu não ria com ela desse jeito. Há tempos eu sequer dava um sorriso. E me sentia leve, apesar de tudo. Só não poderia afirmar se era pela volta da dança (que eu amaria poder confiar que era) ou pelo suposto dono de um par de esmeraldas brilhantes.
Ficamos rindo por um tempo, até pararmos. Policiais estavam um pouco distante, enquanto muito mais longe um casal dava altos amassos no gramado. Uns corredores passavam, e duas crianças choravam no colo da mãe. O vento gélido era tão refrescante que eu poderia morar ali.
“Porque você não me contou antes?” exclamou Sam, um pouco mais calma de sua alegria, causada pela surpresa de ver a amiga encalhada-pelo-cara-que-a-deixou conhecendo um outro totalmente diferente. “Você disse que começou a dançar a duas semanas. Como não me contou antes?”
“Não achei que seria necessário... talvez.”
“Tudo para você não é necessário. Sempre te apoiei para voltar a dançar! Pelo menos agora o estímulo é um gostosão de olhos verdes.” E riu baixinho.
Eu a acertei com meu copo vazio de coca, e ela só continuou a rir.
Era impossível não ficar feliz quando Sam estava – mais seriamente, era impossível ficar infeliz na presença dela. Todo esse tempo de depressão boba pelo Matt (que ainda dava pontadas nas extremidades do meu corpo ao lembrar dele) só não fora dissolvida por seu sorriso porque, talvez, eu estive demasiadamente no chamado fundo-do-poço , ou porque ela desistira depois de tanto tempo esperando me ver superá-lo. Como eu disse, tudo estava leve novamente. Rir era tão fácil quanto respirar.
“Quando está pensando em voltar para lá?”
“Para o estúdio? Não faço a mínima idéia.”
“Mas você precisa! Primeiro tem o trabalho no seu iPod, e o casaco dele, e se eu te ver infeliz de novo pela falta de movimento físico, eu juro que te reboco para lá a força.” Disse, dando devida entonação nas últimas palavras.
“Mas quem garante que ele vai estar lá? E ainda por cima, com o meu iPod?”
“Como eu vou saber? Você pode tirar a prova indo lá conferir.”
“O trabalho, eu refiz. Suas músicas estão lindamente guardadas no meu computador caso você as queira, e estou usando meu antigo mp4 pela abstinência musical.”
“Para. Que. Ser. Tão. Difícil?! UGH!” ela parecia furiosa. Cruzou bruscamente os braços no peito e afundou no banco de granito, murmurando palavrões.
“Calma Sam, eu vou voltar lá. E quanto à felicidade, você cuida dessa parte.”
Agora foi a vez dela de tacar o copo na minha cara.

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